Quando Hamas soltou os últimos 20 prisioneiros israelenses ainda vivos, a madrugada de 13 de outubro de 2025 ficou marcada como um dos momentos mais inesperados da guerra que dura quase dois anos.
Os libertados saíram de Faixa de Gaza sob escolta da Cruz Vermelha, após um acordo de cessar‑fogo que foi negociado pelas Egito, Turquia e Catar, com forte pressão dos Estados Unidos. O plano, anunciado em 8 de outubro, ficou conhecido como acordo de cessar‑fogo de 2025Cairo.
Contexto do conflito e o histórico dos reféns
Desde o ataque de 7 de outubro de 2023, quando militantes do Hamas invadiram comunidades israelenses, 251 pessoas foram sequestradas. A maioria acabou sendo libertada em trocas anteriores ou em operações militares, mas 48 permaneceram nas mãos do grupo insurgente. Desses, 28 foram declarados mortos pelas autoridades de Tel Aviv. Assim, os 20 ainda vivos representavam o último ponto de tensão que impedia a assinatura definitiva do cessar‑fogo.
O cerco israelense sobre Gaza, que cobria cerca de 75% do território, foi gradualmente reduzido para 53% após a nova rodada de negociações – uma das concessões mais visíveis do acordo.
Liberação dos últimos 20 reféns e a operação
A madrugada começou com veículos da Cruz Vermelha atravessando a fronteira sul de Gaza. Ao chegarem à Praça dos Reféns, nas proximidades de Tel Aviv, milhares de familiares explodiram em abraços, lágrimas e gritos de alívio. Entre os libertados, Matan Angrest, de 22 anos, aparecia ainda marcado pelas cicatrizes psicológicas de ter sido capturado em seu tanque perto de Nahal Oz. Ao lado dele, os gêmeos Gali Berman e Ziv Berman, 28 anos, foram reconhecidos pelos próprios pais, que ainda carregam a dor de perder o kibutz Kfar Aza.
Outro nome que despertou atenção foi Elkana Bohbot, produtor do Nova Music Festival, onde ocorreu um massacre na mesma noite de 2023. Ele chegou ao Brasil em estado debilitado: o rosto ainda mostrava marcas de algemas e cortes, e sua esposa colombiana, Rebecca González, chorava ao lado dos jornalistas.
Além desses, o ex‑soldado Evyatar David foi visto cavando uma cova improvisada, sinalizando o nível de fome que assolava os reféns nos últimos meses.
Reações de líderes e discurso de Donald Trump
Logo após a entrega, o presidente dos Donald Trump subiu ao palco do Knesset, o parlamento israelense, e declarou: "Este é um dia histórico para o Oriente Médio, o amanhecer de um novo futuro". A frase ganhou eco nas redes, com milhões compartilhando trechos do discurso que misturavam elogios ao exército israelense e promessas de "nunca mais repetir" os horrores vividos.
Confira alguns trechos do discurso:
"Contra todas as probabilidades, fizemos o impossível e trouxemos nossos reféns de volta para casa."
"Os céus estão calmos, as armas silenciaram, e o sol nasce em uma Terra Santa que finalmente está em paz."
Depois, o presidente partiu para o Egito, onde se encontrou com representantes de Catar e Turquia para esboçar os próximos passos do plano de paz.
Em paralelo, o primeiro‑ministro Benjamin Netanyahu agradeceu o apoio internacional e apelou por continuidade nas negociações, destacando que "os tempos de guerra dão lugar aos tempos de reconstrução".

Impactos políticos e militares do acordo
O cessar‑fogo traz, ao menos na teoria, duas mudanças estratégicas importantes: a retirada gradual das tropas israelenses de áreas estratégicas de Gaza e a abertura de corredores humanitários controlados pela ONU. O Estado‑Maior israelense, comandado pelo general Yair Golan, recebeu ordens claras para permanecer em alerta máximo, pois o Hamas ainda não garantiu a entrega de suas armas.
- Redução da presença israelense de 75% para 53% do território de Gaza.
- Criação de um comitê binacional de monitoramento, liderado por diplomatas dos EUA e Egito.
- Compromisso da Turquia de ajudar a localizar os restos mortais dos 28 reféns já declarados mortos.
Entretanto, o Hamas, ainda sem reconhecer a necessidade de desarmamento, avisa que não aceitará nenhuma tutela estrangeira sobre a administração de Gaza – ponto que pode virar pedra de tropeço nas próximas rodadas de negociação.
Desafios e perspectivas para a paz duradoura
Apesar da euforia momentânea, especialistas apontam que o acordo ainda tem lacunas críticas. O plano dos EUA inclui, entre outras coisas, a criação de uma autoridade civil internacional para Gaza, mas a aceitação desse modelo ainda é incerta tanto entre militantes quanto entre setores civis palestinos.
O economista Saeb Erakat, da Universidade de Tel Aviv, argumenta que a sustentabilidade de qualquer acordo dependerá de duas condições essenciais: a reconstrução econômica de Gaza e a garantia de segurança para ambos os lados. "Sem uma avenida de recursos e sem confiança mútua, o cessar‑fogo pode se transformar em mera pausa temporária", alertou.
Enquanto isso, a população de Gaza continua lidando com a tragédia de milhares de mortos, infraestrutura destruída e escassez de água potável. Organizações humanitárias internacionais estimam que mais de 1,2 milhão de pessoas ainda precisam de assistência urgente.
Em suma, a libertação dos 20 reféns representa um marco simbólico, mas ainda há muito a ser construído antes que a região possa realmente respirar aliviada.

FAQ
Perguntas Frequentes
Quantos reféns ainda permanecem nas mãos do Hamas?
De acordo com o Ministério da Defesa israelense, todos os 48 reféns capturados ainda estavam sob controle do Hamas em outubro de 2023. Dos 48, 20 foram libertados vivos, 28 foram confirmados mortos, restando nenhum refém vivo conhecido até o momento.
Qual foi o papel dos Estados Unidos nas negociações?
Os EUA, sob a liderança do presidente Donald Trump, organizaram e mediaram as conversas entre Israel, Hamas, Egito, Catar e Turquia, garantindo que o cessar‑fogo fosse assinado e que a libertação dos últimos reféns fosse realizada dentro do prazo estabelecido.
O que acontece com os corpos dos 28 reféns mortos?
O Hamas solicitou mais tempo para localizar e exumar os restos mortais. A Turquia anunciou uma força‑tarefa para auxiliar na busca, mas ainda não há calendário definido para a devolução dos corpos às famílias israelenses.
Quais são os próximos passos do plano de paz apresentado pelos EUA?
O acordo prevê uma retirada gradual das forças israelenses, a criação de um comitê binacional de monitoramento e a proposta de uma autoridade civil internacional para governar Gaza. No entanto, o Hamas ainda não aceitou entregar suas armas nem aceitar tutela estrangeira, o que pode atrasar a implementação completa.
Como a comunidade internacional está reagindo à libertação?
Vários governos, incluindo o da Alemanha e da Colômbia, manifestaram apoio ao gesto e salientaram a necessidade de assistência humanitária em Gaza. A ONU pediu que todas as partes cumpram o cessar‑fogo e acelerem a entrega de ajuda básica aos civis.