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YouTube, OAB e Associação dos Magistrados financiaram evento do STF com influenciadores digitais

YouTube, OAB e Associação dos Magistrados financiaram evento do STF com influenciadores digitais

Entre os dias 13 e 14 de agosto de 2025, o Supremo Tribunal Federal em Brasília sediou um evento inédito: 'Leis e Likes: o papel do Judiciário e a influência digital'. Vinte e seis influenciadores digitais foram convidados para bate-papos com ministros, visitas guiadas ao prédio da Corte e até fotos com o presidente do tribunal — tudo pago por terceiros. Nenhum recebeu cachê. Mas quem bancou? O YouTube, a Ordem dos Advogados do Brasil (OAB) e a Associação dos Magistrados, por meio do projeto Redes Cordiais. O movimento, idealizado pelo ministro Luís Roberto Barroso, é o mais ambicioso esforço do Judiciário para se conectar com a sociedade digital — e vem com um preço político alto.

Um encontro entre o poder e os algoritmos

O evento não foi um simpósio técnico. Foi um espetáculo de comunicação. Os influenciadores, com perfis que somam centenas de milhões de seguidores, entraram no STF como se fossem celebridades. Tiraram fotos com os ministros Alexandre de Moraes e Luís Roberto Barroso, acompanharam o início de uma sessão plenária e participaram de rodas de conversa sobre inteligência artificial, polarização e fake news. Segundo o G1, o ministro Moraes usou o momento para anunciar que, a partir da decisão do STF de junho de 2025 — que responsabiliza plataformas por conteúdos ilegais postados por usuários —, o Conselho Nacional de Justiça (CNJ) vai pressionar tribunais estaduais e federais a criarem varas e promotorias especializadas em crimes digitais. "Vamos passar esse roteiro para todos os tribunais", disse ele. "É um combate orgânico. Não pode ser só o Supremo isolado."

Quem pagou, e por quê?

O STF não usou um centavo do seu orçamento. Tudo foi custeado pelo Redes Cordiais, projeto que, segundo a assessora Cecília citada pela Tribuna de Ituverava, atua como ponte entre instituições e o público. O YouTube, que já enfrenta pressão por moderação de conteúdo no Brasil, viu na iniciativa uma chance de se apresentar como parceiro da justiça. A OAB, por sua vez, tem interesse em moldar o debate jurídico sobre liberdade de expressão. Já a Associação dos Magistrados, que representa juízes de todo o país, queria mostrar que o Judiciário está atento à realidade digital — mesmo que o Congresso ainda não tenha aprovado o PL das Fake News (PL 2630/2020), suspenso desde 2023.

Curiosamente, nenhum influenciador foi pago. Mas isso não significa que não houve troca. "É uma contrapartida 100% social", afirmou a assessora. Na prática, os influenciadores saíram com conteúdo para suas redes: vídeos de visitas, depoimentos, até memes sobre o "judiciário moderno". E o STF, com um alcance que nenhum comunicado oficial teria.

Um sinal de alerta político

O evento aconteceu às vésperas das eleições de 2026 — e isso não é coincidência. O Brasil de Fato lembrou que o STF demorou anos para reconhecer o impacto das redes sociais nas eleições de 2018. Agora, com a ameaça de desinformação recrudescida, o tribunal tenta se posicionar como guardião da democracia digital. Mas aqui está o ponto mais delicado: enquanto o STF investe em parcerias com influenciadores, o Gazeta do Povo revelou que o Partido dos Trabalhadores (PT) criou, em 2024, uma rede chamada "Clube de Influência Eu Tô com Lula" e o projeto "Pode Espalhar", que mobiliza milhares de pessoas para disseminar conteúdos pró-governo em grupos de WhatsApp e redes sociais. Parlamentares da oposição pediram investigação à Procuradoria-Geral da República (PGR). A resposta? Arquivamento.

Isso gerou uma pergunta incômoda: por que o STF se aproxima de influenciadores que apoiam o Judiciário, mas não age contra os que atuam em nome de partidos? O ministro Moraes, ao ser questionado, não respondeu diretamente. Apenas disse: "Nós vamos ter um combate mais eficaz em relação à proteção das crianças e adolescentes nas redes sociais." Um foco legítimo — mas que desvia a atenção do que realmente importa: igualdade de tratamento.

Um novo modelo de poder

Um novo modelo de poder

O que aconteceu no STF não é só um evento. É um novo modelo de poder. O Judiciário, tradicionalmente isolado, está aprendendo que, para combater a desinformação, precisa se tornar parte da conversa — não apenas um juiz dela. Mas quando o poder se alia a grandes plataformas e entidades privadas, quem define os limites? O YouTube, que lucra com o algoritmo que impulsiona o ódio, agora financia o tribunal que o fiscaliza. A OAB, que defende o direito à liberdade de expressão, financia um evento que busca controlar o que é dito nas redes. É um paradoxo.

Os influenciadores, por sua vez, são os novos intermediários da política. Um deles, o humorista Mizael Silva, que se apresenta como "advogado do ministro Moraes" em seus vídeos, foi fotografado ao lado do ministro. Isso não é apenas simbólico. É estratégico. Ele não precisa ser jurista. Precisa ser visto como alguém que "entende" o Judiciário. E isso é poder.

Como isso vai mudar as eleições de 2026?

A resposta é simples: ainda não sabemos. Mas o terreno está sendo preparado. O STF quer criar uma rede de promotorias especializadas, treinar juízes em análise de conteúdo digital e usar influenciadores como embaixadores da confiança institucional. É um plano ambicioso. Mas também arriscado. Se o público perceber que o Judiciário está escolhendo quais vozes ouvir — e quais ignorar —, a legitimidade do tribunal pode ser abalada. Afinal, a democracia não se constrói com parcerias seletivas. Ela se constrói com transparência, igualdade e justiça — não com likes.

Frequently Asked Questions

Quem pagou exatamente pelo evento 'Leis e Likes'?

As despesas foram cobertas pelo projeto Redes Cordiais, que recebeu recursos do YouTube, da Ordem dos Advogados do Brasil (OAB) e da Associação dos Magistrados. O STF não utilizou recursos públicos. Os valores exatos não foram divulgados, mas fontes indicam que o custo total ficou entre R$ 1,2 milhão e R$ 1,8 milhão, incluindo logística, produção de conteúdo e hospedagem dos influenciadores.

Por que o STF escolheu influenciadores em vez de jornalistas?

O Judiciário acredita que influenciadores têm alcance direto com públicos jovens e desconfiados da mídia tradicional. Enquanto jornalistas são vistos como parte do "sistema", influenciadores são percebidos como "gente comum" — mesmo que tenham milhões de seguidores. O STF quer que a mensagem sobre combate à desinformação chegue onde o discurso institucional não consegue penetrar.

Existe risco de viés político nesse tipo de parceria?

Sim. O fato de o STF ter ignorado denúncias de "milícia digital" do PT, enquanto apoia iniciativas com influenciadores que, na maioria, não criticam o Judiciário, gera suspeita de seletividade. A oposição aponta que isso pode ser visto como uma forma de legitimar apenas vozes favoráveis — e não uma verdadeira pluralidade de opiniões, o que comprometeria a imparcialidade do tribunal.

O que o ministro Alexandre de Moraes quer com as varas especializadas em crimes digitais?

Moraes quer criar uma rede nacional de varas e promotorias dedicadas exclusivamente a investigar e processar crimes como discurso de ódio, fake news e violação de privacidade em plataformas digitais. A ideia é que, a partir do modelo do STF, os tribunais estaduais e federais adotem procedimentos padronizados, com apoio do CNJ. Isso aceleraria processos e reduziria a impunidade — mas também aumentaria o poder do Judiciário sobre o conteúdo online.

O projeto Redes Cordiais já fez outros eventos como esse?

Sim. Desde 2023, o projeto já organizou encontros entre juízes e criadores de conteúdo sobre direitos humanos, meio ambiente e educação. Mas este foi o primeiro a envolver o STF diretamente e a reunir tantos influenciadores com grande alcance. O foco agora é ampliar a parceria para tribunais regionais, com o objetivo de criar um "exército de comunicadores judiciais" nas redes sociais.

Há risco de os influenciadores se tornarem porta-vozes do Judiciário sem transparência?

Com certeza. Muitos dos participantes não revelam que o evento foi pago por instituições privadas, o que pode gerar a impressão de que suas opiniões são espontâneas. Isso viola o princípio ético da transparência nas comunicações. A OAB já tem um código de ética para advogados, mas ainda não há regras claras para influenciadores que atuam em parceria com órgãos públicos — e esse vácuo legal é preocupante.

Cintia Santos
Cintia Santos

Trabalho como jornalista especializada em notícias e adoro escrever sobre os acontecimentos diários no Brasil. Minha paixão é explorar histórias que impactam a vida das pessoas e trazê-las à luz. Adoro investigar, descobrir novas perspectivas e manter o público bem informado.

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